Preparação do voo e condução de briefings eficazes. Integração com a revisão de voo para segurança e proficiência na aviação
Por Comandante Bassani - ATPL/B-727/DC-10/B-767 - Ex-Inspetor de Acidentes Aéreos SIA PT. Email - voopessoal@gmail.com - Mar/2025 - https://www.personalflyer.com.br/ - https://www.linkedin.com/in/luiz-bassani-0843b917/

A aviação é uma atividade que exige precisão, coordenação e um compromisso contínuo com a segurança. Dois pilares fundamentais nesse contexto são, a preparação adequada para o voo e a condução de briefings eficazes, que promovem sinergia entre a tripulação e a realização periódica de revisões de voo (Flight Reviews1), que asseguram a proficiência dos pilotos.
Este artigo direcionado a todos os pilotos, explora esses temas com base em diretrizes da indústria, como as apresentadas pelo SKYbrary no Operator’s Guide to Human Factors in Aviation (OGHFA) e pelo FAA Safety em seu guia "Conducting an Effective Flight Review1". O objetivo é oferecer uma visão integrada sobre como essas práticas contribuem para a segurança operacional e o aprimoramento contínuo das habilidades dos pilotos.
1. A importância da preparação de voo e dos briefings eficazes
A preparação de voo é o alicerce sobre o qual se constrói uma operação segura e eficiente. Ela envolve a coleta e análise de informações críticas, como condições meteorológicas, desempenho da aeronave, plano de voo, NOTAMs (Notices to Airmen) e potenciais ameaças operacionais. O SKYbrary enfatiza que essa etapa não se limita aos pilotos, mas deve incluir toda a tripulação, promovendo uma abordagem sistêmica que maximize a consciência situacional e minimize riscos.
Os briefings, por sua vez, são o momento em que essas informações são compartilhadas e as estratégias são alinhadas. Um briefing eficaz deve ser estruturado, claro e inclusivo, abordando:
Objetivos do voo: definição clara da missão e dos resultados esperados;
Ameaças esperadas: identificação de fatores externos (como mau tempo, tráfego aéreo intenso ou terreno desafiador) que possam complicar a operação;
Procedimentos operacionais padrão (SOPs): revisão das ações a serem tomadas em situações normais e anormais;
Contingências: planos para lidar com imprevistos, como desvios ou emergências.
A inclusão de toda a tripulação no briefing é essencial para criar uma cultura de sinergia. Por exemplo, em um voo comercial, os comissários de bordo devem estar cientes de aspectos como turbulência prevista ou procedimentos de evacuação, enquanto os pilotos coordenam responsabilidades específicas, como quem será o "Pilot Flying" (PF) e o "Pilot Monitoring" (PM). Essa abordagem reduz a probabilidade de mal-entendidos e melhora a capacidade da equipe de gerenciar situações complexas.
2. Estrutura de um briefing eficaz
O SKYbrary sugere uma estrutura prática para briefings, que pode ser adaptada a diferentes tipos de operações:
Introdução: contextualização do voo, incluindo destino, duração e condições gerais;
Análise de riscos: discussão de ameaças específicas (e.g., condições de vento cruzado na decolagem ou aproximação em baixa visibilidade);
Atribuição de tarefas: definição clara de papéis e responsabilidades;
Plano de ação: revisão dos procedimentos e pontos de decisão (e.g., altitudes mínimas de estabilização ou critérios para um "go-around");
Perguntas e confirmação: espaço para esclarecimentos, garantindo que todos compreendam o plano.
Essa estrutura não apenas organiza as informações, mas também reforça a disciplina operacional, um fator crítico para evitar erros humanos, que são responsáveis por grande parte dos incidentes na aviação.
3. A revisão de voo como ferramenta de proficiência
Enquanto a preparação e os briefings focam na execução de um voo específico, a revisão de voo (Flight Review), conforme delineada pelo FAA Safety, é um processo contínuo de avaliação e treinamento. Obrigatória nos Estados Unidos a cada 24 meses para pilotos certificados (14 CFR 61.56), ela não é um teste, mas uma oportunidade de aprendizado colaborativo entre o piloto e o instrutor de voo (CFI).
O guia "Conducting an Effective Flight Review" recomenda uma abordagem em três fases:
Preparação: antes da sessão, o piloto deve revisar regulamentos (FAR2/AIM3), planejar um voo simulado (incluindo peso e balanceamento, desempenho e meteorologia) e avaliar sua prontidão pessoal (fator IMSAFE: Illness, Medication, Stress, Alcohol, Fatigue, Emotion).
Sessão em solo: discussão de tópicos como regras de operação (para o Part 914), gerenciamento de riscos e cenários práticos, como desvios de rota ou emergências.
Sessão de voo: execução de manobras básicas (e.g., estóis, pousos e decolagens), navegação e gerenciamento de cenários realistas, como uma mudança inesperada nas condições climáticas.
O objetivo é avaliar as habilidades do piloto, identificar áreas de melhoria e desenvolver um plano personalizado para manter ou aprimorar sua proficiência. Por exemplo, um piloto que raramente pratica estóis pode receber orientações específicas para realizar esse treinamento com mais frequência.
4. Integração entre preparação, briefings e revisão de voo
Embora os contextos sejam distintos — a preparação e os briefings ocorrem antes de cada voo, enquanto a revisão de voo é periódica —, há uma sinergia clara entre eles. A preparação de voo e os briefings reforçam a consciência situacional e a adesão aos SOPs, habilidades que são diretamente testadas e aprimoradas durante a revisão de voo. Por outro lado, as lições aprendidas na revisão podem ser incorporadas nos briefings futuros, como a identificação de pontos fracos pessoais (e.g., hesitação em iniciar um "go-around") ou a necessidade de maior atenção a ameaças específicas.
Um exemplo prático seria um piloto que, durante uma revisão de voo, demonstra dificuldade em gerenciar uma aproximação em vento cruzado. O instrutor pode recomendar que, em briefings futuros, esse piloto sempre discuta os limites de vento cruzado da aeronave e os procedimentos de contingência, como a escolha de uma pista alternativa. Essa integração fortalece a segurança em todos os níveis.
5. Desafios e soluções
Ambas as práticas enfrentam desafios. Nos briefings, a sobrecarga de informações ou a falta de tempo pode comprometer sua eficácia. A solução é priorizar informações críticas e realizar o briefing em períodos de baixa carga de trabalho, preferencialmente antes da partida do motor/es. Na revisão de voo, a resistência do piloto em reconhecer deficiências pode ser um obstáculo. Aqui, o instrutor deve adotar uma abordagem colaborativa, focando na construção de confiança e no aprendizado mútuo.
Além disso, fatores humanos, como fadiga ou estresse, afetam tanto a preparação quanto a revisão. O modelo IMSAFE (FAA), amplamente utilizado, é uma ferramenta valiosa para mitigar esses riscos, garantindo que pilotos e tripulantes estejam aptos para suas funções.
Conclusão
A preparação de voo e os briefings eficazes são pilares operacionais que asseguram a execução segura de cada missão, enquanto a revisão de voo é um mecanismo de longo prazo para manter a proficiência e a segurança dos pilotos. Juntas, essas práticas formam um ciclo contínuo de aprendizado e melhoria, alinhado com os princípios de gerenciamento de riscos da aviação moderna. Para os profissionais da área, adotar uma abordagem estruturada e colaborativa em ambos os processos não é apenas uma exigência regulatória, mas um compromisso com a excelência operacional e a proteção de vidas.
Glossário:
1 - Flight Reviews tem como objetivo avaliar o conhecimento e a proficiência de um piloto para garantir que ele possa exercer com segurança os privilégios de seu certificado.
2 - FAR - US Federal Aviation Regulations
3 - AIM - Aeronautical Information Manual
4 - Parte 91 — Todos (regras de voo para operações não comerciais), Parte 121 — Companhias aéreas regionais e principais e Parte 135 — Operadores de fretamento e transporte regional.
Fontes: SKYbrary FAA Safety

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